O que é mediação e como funciona?

A mediação é um processo de resolução de conflitos em que as duas partes opostas recorrem voluntariamente a um terceiro imparcial, o mediador, para chegar a um acordo satisfatório.

É um processo extrajudicial, diferente dos habituais canais de resolução de disputas legais, é criativo porque promove a busca de soluções que atendam às necessidades das partes, e implica não se restringir ao que a lei diz.

Além disso, a solução não é imposta por terceiros, mas é criada pelas partes em conflito.

De acordo com Aird, as partes no conflito se encontram com o mediador, que irá ajudá-las a se comunicar para que possam encontrar uma solução mutuamente satisfatória. O acordo beneficia ambas as partes envolvidas, conseguindo uma solução do tipo eu ganho / você ganha.

A comunicação é um elemento essencial na resolução de conflitos, de fato, o processo de mediação consiste em fornecer às partes recursos de comunicação de qualidade para que possam chegar a um acordo e resolver o problema que lhes ocorre.

Ao longo do processo, as partes falam de reprovações, posições, opiniões, desejos, necessidades e sentimentos, e o papel do mediador é ajudá-los a se expressarem de maneira construtiva e acima de tudo, de tal modo que o A comunicação estabelecida entre eles ajuda-os a encontrar soluções para o conflito.

Uma boa comunicação pode ajudar as partes a trabalhar em conjunto para encontrar soluções satisfatórias para todos os envolvidos.

Os princípios básicos da mediação

  1. O mediador é imparcial e deve ser percebido pelas partes envolvidas no conflito.
  2. A mediação é voluntária, qualquer das partes pode desistir a qualquer momento.
  3. O mediador não tem poder para impor um acordo.
  4. Não se trata de encontrar culpado ou vítimas. Nem quem está certo e quem não está.
  5. Tudo declarado durante o curso da mediação é confidencial.
  6. A mediação é um processo de aprendizagem. O mediador é um educador que orienta as partes para encontrar a melhor solução possível para seus problemas.
  7. O pilar básico do processo é a comunicação. Restaure, canalize e eduque. É a ferramenta básica na qual o processo é baseado.

O processo de mediação e o papel do mediador

Para Linda R. Singer, diretora do Washington Center for Dispute Resolution, o processo de mediação tem seis etapas básicas:

  1. Primeiras entrevistas e contatos entre o mediador e cada uma das partes em conflito. Nesta primeira etapa, os protagonistas, as pessoas ou organizações relacionadas ao conflito são identificadas.
  2. Estabelecimento das linhas gerais que guiarão o conflito. Além disso, são fornecidas informações sobre o processo de mediação e a participação ativa nele é incentivada. A área temática do conflito é determinada e uma avaliação é feita para avaliar se é suscetível de ser abordada por meio de mediação.
  3. Compilação das informações e identificação dos pontos a serem resolvidos de acordo com uma agenda. O objetivo principal é reunir todas as informações relacionadas ao conflito e a percepção que cada uma das partes tem sobre ele. A coleta de dados pode ser por meio das próprias entrevistas ou visitas do mediador à comunidade ou instituição.
  4. Compartilhamento e desenvolvimento das diferentes alternativas possíveis para resolver cada ponto. Nesta fase, o mediador assume uma relevância especial e adquire um papel mais ativo. Ele é responsável por identificar os pontos comuns e maximizar as oportunidades e pontos de acordo que as partes têm.
  5. O mediador incentiva as partes a chegar a um acordo ou gestão construtiva da situação, é um tempo orientado para a ação e consenso. Uma lista de tópicos é elaborada com base nos pontos críticos detectados durante as fases anteriores. As partes analisam essas questões críticas de maneira comum e propõem, em conjunto, soluções para cada um dos pontos. Por fim, avaliam e selecionam das propostas aquelas que ambas as partes entendem como adequadas e satisfatórias.
  6. Conclusão de um acordo global ou parcial sobre o núcleo do conflito e preparação do plano necessário para a execução, controle e ratificação do referido acordo. O documento do contrato é o único documento derivado da negociação. Deve ser escrito de forma clara e concreta, especificando quem, o quê, onde e como do plano de ação.

Para transformar a situação de conflito, o mediador deve ser um corretor, um suporte e um reforço que force as partes a funcionarem como iguais. Ele realiza uma tarefa de reestruturação do processo de comunicação e tece um sistema justo e equilibrado para a tomada de decisões.

O mediador escuta cada uma das partes e ajuda-as a se comunicar. Ele identifica quais são as necessidades e interesses subjacentes e impede que as partes se concentrem em posições fixas que os impedem de chegar a um acordo comum. Também esclarecerá áreas de interesse e problemas específicos, separando as pessoas dos problemas. Destacar pontos de acordo, princípios e valores comuns.

Tipos de conflitos

Existem várias teorias sobre conflito que as classificam em diferentes tipos de acordo com a origem destes:

  1. Conflitos de valores, religiosos, étnicos, etc.
  2. Conflitos de informação. Quando você tem informações diferentes sobre a mesma situação.
  3. Conflitos de interesses. Cada protagonista procura interesses incompatíveis.
  4. Conflitos relacionais. Eles se concentram no mal-estar gerado dentro da dinâmica relacional entre as partes envolvidas.

Áreas de aplicação

Embora neste artigo vamos nos concentrar na mediação comunitária, existem também várias áreas de intervenção. No contexto familiar, no campo educacional, dentro de uma empresa ou organização, no campo da vida cívica, no contexto judicial, na política internacional ou intercultural.

Cada um desses contextos é suscetível à aplicação de mediação para resolver conflitos que possam surgir. Em cada caso, será necessário analisar se este processo é o mais adequado, tendo em conta que cada um dos contextos mencionados possui características particulares e, portanto, o processo de mediação será diferente em cada um deles.

Mediação comunitária

Do ponto de vista da mediação, uma comunidade pode ser definida como um grupo de seres humanos que compartilham uma série de elementos comuns. Dentro da comunidade, uma identidade compartilhada é geralmente criada diferenciando-a de outros grupos ou comunidades.

Algumas das características que definem o conceito de comunidade são: a existência de um espaço ou território físico, o grupo de pessoas que vive naquele território e o sentimento e a consciência de pertencimento que os membros da comunidade possuem.

A mediação aplicada à esfera comunitária tem características especiais e diferenciadoras. Em primeiro lugar, há muitas partes ou indivíduos envolvidos: membros de uma comunidade, um coletivo, uma associação ou grupo étnico, etc.

Geralmente, as partes envolvidas mantêm um relacionamento de contato contínuo ao longo do tempo e conflitos de complexidade variada e importância existem entre eles. E finalmente, o acordo não é em si mesmo o fim da mediação, mas o processo é o mais importante na medida em que faz refletir e refletir sobre as próprias atitudes das partes e outros.

Principais objetivos da mediação comunitária

  1. Melhorar a comunicação, a compreensão mútua e a empatia entre os membros da comunidade (pessoas, grupos, associações, etc.)
  2. Treinar os membros da comunidade com habilidades básicas e técnicas de negociação e resolução de conflitos.
  3. Ofereça um espaço onde os membros da comunidade envolvidos em um conflito ou discordância tenham a oportunidade de trabalhar juntos em sua resolução.
  4. Ofereça informações sobre recursos que permitirão que as partes em conflito tomem suas próprias decisões e apliquem suas próprias soluções.

Funções da medicação comunitária

A intervenção pode ser realizada em três níveis, dependendo do estado em que o conflito está localizado:

1- Mediação e conflito latente: função preventiva

O trabalho dos serviços de mediação nesses casos visa prevenir a manifestação do conflito e seu desenvolvimento violento, promovendo diferentes atividades na esfera comunitária e institucional.

2- Mediação e conflito manifesto: gestão de conflitos, resolução de litígios e melhoria das relações

Neste caso, o trabalho é a gestão e resolução do conflito, negociação e realização de um acordo ou para além do acordo, a aceitação não violenta das diferenças e a melhoria das relações. As principais tarefas a serem desenvolvidas são:

  1. Se houver conflitos entre dois grupos ou partes identificadas, a primeira coisa é contrastar com as informações disponíveis.
  2. Realize entrevistas individuais com as partes ou grupos para aproximar as posições e enfocar o problema.
  3. Uma vez que o conflito, as necessidades e possíveis soluções são organizadas, reuniões conjuntas são realizadas para realizar o processo de negociação e buscar soluções que satisfaçam ambas as partes.
  4. Acompanhamento periódico é estabelecido para avaliar a conformidade com o contrato.

3- Mediação após o conflito: a restauração de relacionamentos

Nesta fase, uma função de reconciliação e restauração das relações danificadas no conflito é realizada.

Tipos de mediação comunitária

A mediação comunitária pode ser classificada em diferentes tipologias de acordo com os critérios que a definem:

  1. Dependendo do início do processo : pode ser através de um pedido direto da população, através de um terceiro ou intermediário e, finalmente, pode ser um projeto oferecido por instituições públicas, municipais ou comunitárias.
  2. Dependendo do tempo ou duração do projeto : longo prazo, tempo limitado ou médio prazo e, finalmente, como intervenções específicas na comunidade.
  3. De acordo com o vínculo estabelecido com a comunidade : assessoria ou participação no desenho de estratégias comunitárias. Coordenação com aqueles que intervêm e trabalham com a comunidade. Ou fazendo um trabalho direto com a população sujeita à mediação.
  4. Dependendo da inserção do mediador : de uma organização pública, de uma privada, do exercício liberal da profissão ou situações mistas que integram as anteriores.
  5. De acordo com o modelo de planejamento em que o mediador está incluído : durante todo o processo, na fase de diagnóstico de conflitos, no processo de negociação real ou na avaliação.
  6. E, finalmente, de acordo com a área em que ocorre a intervenção : organizações formais, organizações comunitárias ou ambas.

Benefícios da mediação comunitária

A mediação comunitária tem vários benefícios para pessoas em conflito:

  1. Contribui para a formação do comportamento cidadão baseado na participação, solidariedade e respeito mútuo.
  2. Incorpora a convicção de que as pessoas podem ser parte ativa na resolução de conflitos, estimulando a ação conjunta dos vizinhos para resolver vários problemas que surgem em sua própria comunidade.
  3. Permite chegar a acordos satisfatórios para todas as partes envolvidas.
  4. Cria uma situação de diálogo que permanece além do conflito concreto.
  5. Permite a detecção precoce de conflitos sociais.

Limitações da mediação

Ao contrário dos processos judiciais, os acordos alcançados após o processo de mediação não servem de guia para outros casos semelhantes, não estabelecem jurisprudência nem punem os infratores da lei.

Além disso, tenha em mente que a mediação nem sempre é possível. O Centro de Washington para Resolução de Disputas desenvolveu uma série de regras que incluem casos em que não é conveniente usar a mediação para resolver conflitos:

  • Se uma das partes não demonstra interesse suficiente no processo, ela o boicota ou dificulta.
  • Se necessário, defina um precedente legal.
  • Se a conduta das partes for descoberta algum comportamento fora da lei que exija uma penalidade.
  • Se algum dos participantes não pode negociar efetivamente por conta própria ou com a ajuda de um advogado.
  • Se alguma das partes precisa provar a verdade dos fatos que interessam ao processo.

Bibliografia

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