Cultura Chincha: História, Características, Economia, Religião

A cultura chincha foi uma civilização que se desenvolveu no território peruano antes da chegada dos europeus ao continente americano.

Surgiu por volta do ano 1000 d. C., após a queda do Império Wari, e se estendeu até 1476 AD. C., quando foram anexados ao Império Inca.

O nome dessa civilização vem da palavra chinchay ou chincha, que na língua quechua Chinchua significa jaguar ou jaguatirica.

Esta cultura ocupou o território composto pelos vales de Cañete, Ica, Nazca e Pisco. A capital desta sociedade corresponde a Chincha, a atual cidade do Peru.

As condições favoráveis ​​da terra permitiram-lhes desenvolver várias atividades agrícolas, como a agricultura, que se tornou a base da economia Chincha.

Eles também estabeleceram relações comerciais com outras civilizações contemporâneas, pertencentes ao Equador, Chile, Colômbia e Venezuela. Os principais produtos trocados foram conchas e pedras preciosas.

Os chinchas foram organizados em torno da forma política da mansão, na qual ele comandava um chinchaycapac, que era o equivalente a um rei ou a um soberano.

Hoje existem sítios arqueológicos habitados por chincha, como La Centinela, composta por duas pirâmides de adobe.

Localização e períodos de existência

A cultura chincha se desenvolveu no sudoeste do Peru, perto do Oceano Pacífico. Em seu período de apogeu, ocuparam os vales de Cañete, Ica, Nazca e Pisco.

Estima-se que a cultura chincha se formou após o declínio do império wari, entre o ano 900 e o 1000, e sua presença se estendeu até cerca de 1500, quando foram conquistadas pelos incas.

Sua capital era a cidade de Tambo de Mora, e devido a sua localização, era uma sociedade essencialmente marítima. As ilhas da costa do Peru mais próximas do vale de Chincha são chamadas de ilhas Chincha.

Embora o declínio da cultura Chincha seja devido à intervenção inca em seus territórios, estima-se que por vários anos ambas as culturas habitaram em paralelo.

De fato, poucas civilizações chegaram a ter um governante tão importante quanto o soberano máximo de Chincha, ou Senhor de Chincha, em frente ao imperador inca.

História

O primeiro arqueólogo a estudar a cultura chincha foi o alemão Max Uhle, que é creditado com a descoberta dos restos dessa civilização.

Estudos dessa cultura mostram que a chincha começou a se organizar como uma sociedade entre os séculos IX e X.

No entanto, neste período a sociedade era bastante arcaica, pois dependia em grande parte da pesca e da coleta de conchas do mar. Isto é conhecido como a cultura pré-chincha.

No século XI houve uma mudança na organização desses grupos, dando origem à própria cultura chincha. Eles desenvolveram arquitetura e agricultura, bem como um sistema de irrigação para trabalhar em terra seca.

Além disso, adquiriram e desenvolveram conhecimentos relacionados à navegação, com os quais puderam estabelecer rotas comerciais marinhas.

Entre os anos de 1438 e 1471, os incas realizaram expedições no território chincha. Esse primeiro contato não pretendia conquistar o Reino Chincha, mas estabelecer relações políticas e econômicas que fortalecessem a posição de ambas as sociedades.

Entre 1471 e 1493, o Reino Chincha foi anexado ao Império Inca. No entanto, o chincha ainda retinha parte de sua autonomia política e econômica. Três anos depois, essa cultura se fundiu com o Inca, com o qual desapareceu.

Economia

O terreno dos vales de Cañete, Ica, Nazca e Pisco era extremamente fértil, o que permitiu aos chinchas praticar a agricultura como atividade econômica.

De fato, essa atividade foi tão relevante para essa civilização que 40% da força de trabalho estava engajada no cultivo de produtos vegetais. Os produtos mais comuns eram feijão, algodão, milho e pallares.

Nesta área, mesmo sistemas hidráulicos foram desenvolvidos que permitiram a irrigação das terras mais áridas para aumentar a produção agrícola.

A pesca também foi relevante, sendo a segunda atividade econômica com a maior força de trabalho (33%).

Por outro lado, 20% da população ativa estava envolvida no comércio. Os chinchas desenvolveram uma extensa rede comercial, que abrangeu várias nações da América Latina, incluindo Equador, Chile, Bolívia, Colômbia, Venezuela e México. Para isso, eles estabeleceram rotas comerciais, tanto terrestres quanto aquáticas.

Por terra, eles se mudaram graças a lhamas, vicunhas e outros camelídeos. Pela água, eles se moviam através de barcos resistentes, que cruzavam o Oceano Pacífico em diferentes direções.

Entre os produtos comercializados, podemos destacar o mullu (uma espécie de casca que era considerado alimento para os deuses), algas marinhas, peixes salgados, esculturas em madeira e tecidos. Em troca, os chinchas receberam cobre, ouro, esmeraldas, lã, folhas de coca, entre outros.

7% dos trabalhadores eram artesãos. Estes foram dedicados a diferentes atividades, como o trabalho em madeira, com tecidos, entre outros.

Com relação à indústria têxtil, as chinchas se destacaram por seus tecidos de algodão, cujos acabamentos eram de qualidade.

Navegação

Afirmou-se que os chinchas conseguiram navegar para o extremo norte e sul do território peruano para comercializar seus bens.

Alguns estudos passaram a considerar a possibilidade de que os chinchas, graças às suas habilidades de navegação, conseguissem chegar à América Central, para realizar transações comerciais com civilizações locais.

A moeda principal da cultura Chincha tinha seu jeito de ser em caracóis, embora a troca fosse um método muito popular de transação.

Suas rotas comerciais foram muito eficazes, atingindo a presença triangular em várias regiões do território peruano.

Na época em que o Império Inca ainda estava em processo de consolidação, a cultura chincha tinha uma grande presença comercial em várias regiões.

Organização social

Há certas especulações investigativas sobre o caráter militarista que a sociedade Chincha pode ou não ter.

Em algumas das classificações fornecidas por sua organização social, as posições militares não estão presentes, embora a sociedade seja claramente dividida em classes.

Outro fator que influencia isso é a afirmação de que os chinchas foram conquistados pacificamente pelos Incas na época.

O sistema de governo que caracterizava a cultura chincha era o do senhorio, no qual um homem era encarregado de governar as diferentes regiões através das quais a civilização Chincha se estendia; estes receberam o nome de Chinchaycapac.

Abaixo, estes foram estruturados sociedade civil dividida por classes, entre os quais foi a nobreza, cujos membros foram responsáveis ​​pelo trabalho administrativo dentro da sociedade; então os padres e principais representantes religiosos seguiriam; finalmente, a aldeia composta de camponeses, pescadores, artesãos e comerciantes.

Já foi dito que a importância de Chinchaycapac era tal que, mesmo depois de ter sido conquistada pelos incas, era uma categoria que mantinha sua validade oficial e importância simbólica por um considerável período de tempo.

Religião

A civilização Chincha manteve o mesmo comportamento religioso que seus contemporâneos, em termos da alta capacidade supersticiosa que possuíam, tornando o culto dos deuses o centro de suas vidas e de muitas de suas atividades.

Os principais deuses da cultura chincha eram Chinchaycamac e Urpihuachay, uma deusa do sexo feminino cujo nome se traduz como "aquele que para pombos", também considerado o protetor dos pescadores e daqueles que embarcaram em direção ao mar.

Os chinchas atribuíam a origem de seus deuses a uma ilha, e estes eram venerados em templos e huacas construídos especialmente para o culto religioso.

Uma espécie particular de concha marinha chamada Spondylus foi o principal elemento que acompanhou as cerimônias religiosas realizadas pelas chinchas durante grande parte de sua existência.

Navegação e pesca

Os chinchas passaram a ser considerados historicamente como os melhores pescadores da história do Peru. Mesmo outras culturas e comunidades costeiras não pareciam ter as mesmas habilidades ou conhecimentos para dominar as atividades marinhas.

Essa cultura foi reconhecida por suas habilidades de navegação, o que facilitou a troca de mercadorias através de rotas marítimas.

Os chinchas estabeleceram rotas através da linha norte-sul do Pacífico. Desta forma, foi criada uma conexão entre o Reino, a Colômbia, o Equador, o Chile, a Venezuela e até o México.

Tal era a importância da navegação que a influência e o poder de um rei Chincha eram medidos pelo número de barcos que ele possuía. A frota do rei consistia em 200 jangadas (pelo menos) usadas para comércio.

Cerâmica e trabalhos em pedra

Entre os principais estudiosos e pesquisadores da cultura chincha está Federico Kauffmann Doig, um arqueólogo peruano que deixou uma grande marca abordando as arestas sociais e históricas da civilização chincha durante sua vida profissional.

Culturalmente, a civilização chincha manifestou sua riqueza através de práticas artesanais e metalúrgicas, evidenciadas nos vestígios de cerâmicas e obras de pedras e minerais que foram descobertas ao longo dos anos.

Outro material primário que funcionou de maneira especial durante o seu tempo foi a madeira. As técnicas aplicadas à madeira têm atraído a atenção de muitos pesquisadores e arqueólogos.

A xilogravura na madeira foi o denominador técnico comum da civilização chincha, dando-lhes grande prestígio artesanal na região costeira do Peru. Para seus barcos e companhias de navegação, os chinchas também passaram a fabricar lemes de madeira.

Cerâmica

A maioria das descobertas sobre a cultura chincha foram reveladas a partir das cerâmicas encontradas.

Estes têm qualidades diferentes: prevalece a policromia e o uso da argila vermelha; eles têm composições de figuras geométricas acompanhadas de silhuetas e ilustrações humanas e animais.

Eles vieram para fazer vasos e jarros com corpos redondos e pescoços longos (semelhantes a ânforas da antiguidade) que foram considerados únicos para essa cultura.

A cerâmica chincha pode ser de dois estilos: funcional ou decorativa. Criações funcionais foram aquelas que foram usadas em ambientes domésticos e em ritos religiosos.

Entre eles estão os vasos, os jarros ovais, os potes de gargalo longo com uma alça, as placas planas e convexas e outros recipientes.

As cerâmicas decorativas atingiram sua máxima expressão nos cuchimilcos, figuras que representam mulheres com cabeça quadrada.

Utilizou-se argila branca, que poderia ser oxidada para obter tons vermelhos e pretos. Os trabalhos em cerâmica eram simples, com decorações simples mas coloridas.

Arquitetura

A cultura chincha desenvolveu a arquitetura. O elemento principal de suas construções era o adobe, que recebeu a forma de blocos. Atualmente, alguns destes edifícios ainda estão preservados no vale de Chincha, em San Pedro e em Tambo Mora.

Uma das principais ruínas arqueológicas é La Centinela (perto da cidade de Chincha Baja), que é composta de duas pirâmides religiosas, casas, pátios, ruas, entre outras construções.