Liberalismo Econômico: História, Características, Representantes Principais

O liberalismo econômico é uma doutrina que apareceu na Grã-Bretanha no século XVIII. O lado político do liberalismo teve sua origem na busca de direitos contra as classes superiores do Antigo Regime. Em economia, o principal teórico foi Adam Smith.

A Revolução Industrial havia mudado a estrutura social e econômica da Inglaterra na época, fazendo com que a burguesia ganhasse muito poder. Isso colidia com os privilégios daqueles que ainda desfrutavam das classes altas e, por extensão, do Estado representado pelo rei.

Embora já houvesse alguns precedentes teóricos, o liberalismo era a doutrina mais consolidada. Ele afirmou que não deveria haver qualquer regulamentação estatal que afetasse a economia.

O agente mais importante era o indivíduo e, a partir das características que os liberais lhe atribuíam, seu esforço para ganhar dinheiro tornaria toda a sociedade beneficiada.

Apesar do fato de que, com o tempo, o liberalismo econômico teve tempos com mais influência do que outros, nos séculos XX e XXI se consolidou como a principal teoria econômica. Alguns autores, no entanto, apontam que, realmente, a partir dos anos 70 do século passado, surgiu um novo conceito: o neoliberalismo.

História

A origem do liberalismo econômico é encontrada no século XVIII. Seguindo os postulados do liberalismo, tentou acabar com os múltiplos privilégios que ainda gozavam a nobreza, o clero e, claro, a monarquia.

Por outro lado, a doutrina também se opunha a uma das ideologias econômicas em voga na época: o mercantilismo. Ele era a favor da intervenção do Estado nos assuntos econômicos.

Já no século XVII surgiram alguns filósofos cujas idéias se aproximavam desse liberalismo. John Locke é geralmente considerado uma das influências de autores posteriores que definiram a doutrina.

Contexto histórico

Como observado acima, o Estado era o regulador de todas as decisões e estruturas econômicas da época. Diante disso, e no meio da Revolução Industrial, surgiram pensadores que propunham justamente o contrário.

Nos primeiros anos dessa Revolução, os liberais econômicos refinaram suas idéias sobre como construir um modelo semelhante à sociedade que estava sendo criada. Assim, a liberdade individual prevaleceu cada vez mais, com um parlamento que conseguiu reduzir os poderes do monarca.

Naquela época, com mais liberdades políticas do que o resto da Europa, os britânicos começaram a lidar com a economia e o crescimento individual.

Laissez-faire

O liberalismo econômico partiu da ideia de que o indivíduo sempre busca seu próprio benefício. Essa busca, juntamente com a do resto da população, significa que a sociedade acaba se beneficiando. Assim, o Estado não deve interferir nas relações econômicas ou, em todo caso, que essa intervenção seja mínima.

A frase que foi usada para resumir a doutrina foi laissez faire, laissez passer, que em francês significa deixar, deixar ir. Na verdade, o lema já havia sido usado pelos fisiocratas, mas o liberalismo acabou apropriando-se dele.

Com o laissez faire, o mercado não deveria ter qualquer regulamentação além daquilo que os indivíduos decidem. Da mesma forma, ele defendeu a total liberdade dos trabalhadores e empregadores para alcançar acordos contratuais, sem que o Estado deveria estabelecer regulamentos para defender qualquer um deles.

A riqueza das nações

o trabalho publicado em 1776 por Adam Smith, "A riqueza das nações", é considerado o começo do liberalismo econômico. Sua influência é tal que estabelece o momento em que começou a falar de economistas clássicos.

Smith, como outros economistas anteriores, pretendia estudar a melhor maneira de a sociedade se enriquecer e, com ela, o Estado. No entanto, ao contrário de outras correntes, chegou à conclusão de que era o indivíduo quem deveria ter todo o controle sobre as relações econômicas.

Para ele, o enriquecimento do Estado era depois do indivíduo, como ele disse: "Quando você trabalha para si mesmo, serve a sociedade de maneira mais eficaz do que se você trabalha pelo interesse social".

Adam Smith considerou a intervenção dos poderes do Estado no campo da economia inútil, até mesmo perniciosa. Aspectos como oferta ou demanda foram aqueles que deveriam regular as atividades comerciais, sem padrões mais elevados.

Para explicar isso, ele introduziu a metáfora da mão invisível. Segundo ele, os egoísmos individuais em busca do máximo lucro possível são impulsionados pela mão invisível do mercado para favorecer toda a sociedade.

Século XIX

O aumento da produção e o surgimento da burguesia industrial levaram a um grande aumento nos mercados mundiais. O liberalismo, com sua idéia de não intervenção estatal, conquistou o apoio dos comerciantes, investidores e, claro, dos proprietários das próprias indústrias.

Os governos foram forçados a promulgar leis econômicas liberais, eliminando as tarifas e permitindo que as mercadorias circulassem livremente.

Até o final do século XIX, o liberalismo econômico era o sistema que se impunha a todos os outros e seus primeiros resultados convenceram muitos. No entanto, no final do século, o declínio da economia começou a mostrar algumas das suas fraquezas.

O mais visível foi a criação de desigualdades na sociedade. Autores como Charles Dickens mostraram alguns dos efeitos da desregulamentação total, com camadas da população imersas na pobreza ou com crianças tendo que trabalhar desde uma idade muito jovem.

Essas situações levaram os governantes, começando pelos conservadores, a introduzir alguns limites às atividades econômicas. Alguns teóricos do chamado Novo Liberalismo começaram a exigir algumas regulamentações que corrigiam os efeitos negativos.

Movimentos operários e liberalismo

A princípio, a burguesia e o proletariado não foram confrontados. A existência de um inimigo comum, a nobreza, os fez aliados contra ele.

Isso mudou quando o liberalismo econômico prevaleceu como a doutrina dominante. A falta de direito dos trabalhadores provocou o surgimento de movimentos socialistas que buscavam maior igualdade social.

Deste modo, o liberalismo e o socialismo e o comunismo tornaram-se ideologias inimigas. O século XX foi o cenário da luta entre essas doutrinas.

Crise do 29 e New Deal

A Grande Depressão Econômica de 1929 não contribuiu, precisamente, para tornar o liberalismo econômico mais popular. De fato, uma corrente que exigia maior controle estatal da economia cresceu para que os excessos que causaram a crise não voltassem a ocorrer.

A saída dessa crise foi produzida por uma economia que, embora tivesse raízes liberais, pegou parte das receitas do socialismo.

John Maynard Keynes, o economista mais influente do momento, foi o autor teórico do chamado New Deal. Neste, o investimento público foi utilizado como arma principal para recuperar o crescimento econômico.

Guerra Fria

O final da Segunda Guerra Mundial deu origem a um mundo bipolar. Liberalismo - o capitalismo e o comunismo competiam política e economicamente.

Durante a maior parte dos anos da chamada Guerra Fria, a maioria dos países (exceto os do bloco comunista) desenvolveu economias liberais, mas com certas nuances.

Segundo muitos historiadores, o medo da expansão do comunismo significou que, especialmente na Europa, muitos países escolheram criar o chamado Estado de Bem-Estar Social. Estes, com uma operação baseada no liberalismo econômico, estabeleceram serviços públicos próximos aos sistemas mais estatistas.

A saúde, educação ou proteção dos desempregados do Estado rompeu com as idéias mais ortodoxas do liberalismo econômico.

A situação permaneceu mais ou menos a mesma apesar da força das escolas liberais, como a austríaca. O saldo só começou a quebrar a partir dos anos 70. Nessa década, líderes como Margaret Thatcher e Ronald Reagan iniciaram a chamada Revolução Conservadora.

No entanto, muitos autores consideram que o sistema econômico que prevaleceria depois foi o neoliberalismo, uma variante do liberalismo original.

Funcionalidades

O liberalismo econômico parte de uma ideia muito concreta sobre a natureza humana. Para os seguidores dessa doutrina, o indivíduo busca, principalmente, seu próprio bem-estar. Segundo os liberais, o ser humano é eminentemente egoísta. o bem-estar dos outros é muito secundário.

É uma filosofia muito individualista, embora de acordo com suas teorias a busca pela riqueza individual deva resultar no bem comum.

Auto-regulação do mercado

Um de seus principais pontos doutrinários é que o mercado é capaz de funcionar sem nenhuma interferência externa.

Assim, a lei da oferta e demanda é um dos aspectos mais valorizados para estabelecer o custo dos produtos. Da mesma forma, alguns teóricos apontaram que o valor era dado pela conjunção do custo do trabalho e a valorização do consumidor.

Por não precisar de regulamentação, o liberalismo deixa o Estado fora da equação. Isso só teria lugar na construção de infraestruturas ou na segurança nacional.

Concorrência

A competição, seja entre indivíduos ou entre empresas, é um dos eixos sobre os quais a economia se move de acordo com essa teoria. Deve ser estabelecido sem qualquer tipo de distorção normativa, livre e totalmente.

O resultado deve ser o benefício do consumidor. Em teoria, os preços cairiam e a qualidade aumentaria, à medida que as empresas lutassem para conseguir mais.

Quanto ao indivíduo, essa competência seria transferida para os trabalhadores. Somente os mais aptos conseguiriam os melhores empregos.

Propriedade privada

A propriedade privada dos meios de produção é uma das características mais importantes do liberalismo. O Estado não deve possuir nenhuma empresa em seu nome.

Nem pode ser o proprietário das matérias-primas que estão no território. Tudo isso tem que ser colocado nas mãos de empresas privadas.

Principais personagens

Adam Smith (1723-1790)

O britânico Adam Smith é considerado um dos fundadores do liberalismo econômico. Seu principal trabalho foi "Investigação sobre a natureza e causas da riqueza das nações", conhecida popularmente como "A riqueza das nações".

Neste livro ele estabeleceu algumas das bases da doutrina liberal. Para começar, ele disse que os mercados regulados pelos estados eram menos eficientes do que aqueles baseados na concorrência privada. Ele era a favor, portanto, de eliminar tarifas, a maioria dos impostos e outros tipos de regulamentos.

Smith estudou a distribuição da riqueza, observando que quanto mais comércio, mais a renda dos cidadãos aumenta.

Uma de suas contribuições mais conhecidas é o conceito de "mão invisível". Foi a maneira de chamar a força pela qual a busca por riqueza individualmente teve impacto sobre uma sociedade mais rica.

David Ricardo (1772-1823)

Seus estudos se concentraram em como o valor dos salários, da renda ou da propriedade é estabelecido. Seu trabalho mais importante foi intitulado "Princípios da economia política e da tributação".

Levantou questões como a valorização da sociedade, por que aumenta o aluguel de terras e as vantagens do livre comércio.

Ele é considerado um dos pais da macroeconomia devido à sua análise da relação entre salários e benefícios. Da mesma forma, ele foi o pioneiro da lei dos retornos decrescentes.

Sua contribuição, especialmente sua crença de que os trabalhadores dificilmente superariam os salários de subsistência, o colocou entre os chamados "pessimistas". De fato, o próprio Karl Marx pegou parte de sua influência.

John Maynard Keynes (1883-1946)

Apesar de não fazer parte dos teóricos do liberalismo econômico mais ortodoxos, o trabalho de Keynes teve grande importância no século XX. Baseado na mesma doutrina, ele concluiu que o sistema capitalista não era capaz de oferecer uma situação de pleno emprego.

Suas obras serviram para superar a Grande Depressão. Para isso, o Estado estimulou a economia injetando dinheiro público para estimular a demanda interna.

Friedrich Von Hayek (1899-1992)

Ele fazia parte da chamada Escola Austríaca do Liberalismo. Ele foi um dos economistas mais influentes da segunda metade do século XX.

Sua filosofia combina liberalismo econômico com liberdade individual. Isso o distingue do neoliberalismo posterior que preferia governos políticos fortes.

Essa defesa do individualismo levou-o a enfrentar todos os tipos de intervencionismo, começando com o das sociedades comunistas. Sua influência foi fundamental para a Revolução Conservadora de Thatcher e Reagan, bem como para as políticas desenvolvidas em alguns países europeus. .