História da Microbiologia: Estágios e Desenvolvimento

A história da microbiologia como ciência estabelecida e especializada começa no final do século XIX, embora a referência a microorganismos como "germes invisíveis" esteja localizada na Grécia Antiga.

A microbiologia é a ciência que estuda a vida dos microrganismos, isto é, seres vivos tão pequenos que não são visíveis ao olho humano, mas sim através de um microscópio.

O nome microbiologia deriva das palavras gregas mikros que significam "pequeno", bios, "vida" e a terminação -logia, "tratado, estudo, ciência", respectivamente.

Seu objeto de estudo são microorganismos, também chamados de micróbios. Por sua vez, estes podem ser formados por uma única célula ou por estruturas celulares mais complexas.

Entre os microrganismos unicelulares podemos encontrar eucariotos, ou células com divisão celular, e procariontes, ou células sem divisão nuclear. Cogumelos pertencem à primeira categoria e bactérias à segunda categoria, por exemplo.

Desenvolvimento da história da microbiologia

Os avanços metodológicos e a separação das ciências de todos os tipos de misticismo e religião foram um fator fundamental na história da microbiologia.

Dentro da história da microbiologia, quatro períodos podem ser distinguidos: o primeiro meramente especulativo, que se estende desde a antiguidade até a invenção dos primeiros microscópios, o segundo período compreendido pelos primeiros microscopistas entre 1675 e meados do século XIX; período em que os microrganismos são cultivados entre meados e final do século XIX, e a quarta fase, que vai do início do século XX até o presente.

Primeiro Período: da antiguidade à descoberta do microscópio

O período anterior à descoberta do microscópio foi caracterizado pela especulação sobre a existência do microrganismo e suas funções.

Na antiguidade, o poeta e filósofo romano Lucrécio (96-55 aC) fez referência em seus textos às "sementes da doença".

Centenas de anos depois, no Renascimento Europeu, Girolamo Frascatorius, em seu livro " De contagione et contagionis " (1546), atribuiu doenças contagiosas a "germes vivos", deixando de lado qualquer tipo de explicação sobrenatural sobre doenças.

Este último constituiu um avanço na separação entre religião e misticismo, das causas das doenças e males das populações.

Por outro lado, ao longo desse período, os microrganismos já eram conhecidos por fermentações e pela produção de bebidas, pães e laticínios, mas não havia explicações científicas a esse respeito.

Segundo Período: 1675 até meados do século XIX

Já no século XVII, com a evolução dos diferentes tipos de lentes, Constantijn Huygens fez a primeira referência ao microscópio (1621).

Huygens explicou como o inglês Drebbel tinha um instrumento de ampliação, chamado microscopium em 1625, na Accademia dei Lincei em Roma.

A descoberta do microorganismo foi o trabalho do holandês comerciante e cientista Anton van Leeuwenhoek (1632-1723), apaixonado por lentes esféricas perfeitamente polidas.

Com eles, o estudioso criou os primeiros microscópios simples. Em 1675, com uma destas lentes, Leeuwenhoek descobriu que nas gotas de água de um lago podiam-se ver numerosas criaturas, às que se denominou "animálculos".

Entre suas muitas descobertas podemos contar a observação de bactérias, glóbulos vermelhos e espermatozóides. Suas descobertas lhe renderam ser parte da Royal Society of London, para a qual ele enviou seus estudos por correspondência. Leeuwenhoek é considerado, até hoje, como o "Pai da Microbiologia".

Pela mesma época, o inglês Robert Hooke (1635-1703) estudou fungos e descobriu a estrutura celular de plantas com microscópios compostos.

Aquelas células favo de mel das plantas, Hooke as chamava de "células" das celulas latinas, que significa "célula".

Terceiro Período: Segunda metade do século XIX

No século XVII, a teoria da geração espontânea também foi atacada pela ciência. Os últimos supunham que os seres vivos pudessem originar-se de matéria inanimada, ar ou decomposição de resíduos.

A geração espontânea teve seu último reaparecimento com força no primeiro terço do século XIX, com a descoberta da importância do oxigênio para a vida e outras questões extra-científicas, como o surgimento do conceito de transmutação.

Nesse sentido, Louis Pasteur (1822-1895) refutou definitivamente a teoria da geração espontânea deixando as infusões em frascos de vidro com pescoços sinuosos sem fechar, deixando o líquido exposto ao ar.

Com este experimento, Pasteur mostrou que os microrganismos foram retidos no colo de vidro e o líquido não gerou micróbios com exposição ao ar.

Os germes do ar eram aqueles que contaminavam o líquido e não havia como gerá-lo espontaneamente.

Em 1861, Pasteur publicou um relatório explicando como reter micróbios do ar usando um tubo com um plugue de algodão como filtro. Esta técnica permitiu tomar microrganismos do ar e estudá-los.

Foi também Pasteur quem demonstrou a presença de microrganismos na fermentação de produtos lácteos. Em outras obras sobre os fermentos, o cientista descobriu que alguns microorganismos eram resistentes à falta de oxigênio. Além disso, o cientista foi o criador da primeira vacina composta de microorganismos atenuados.

Em 1877, John Tyndall (1820-1893) mostrou como esterilizar pelo calor descontínuo. Esta forma mostrou que havia microorganismos muito resistentes ao calor.

Finalmente, o alemão Robert Koch (1843-1910) desenvolveu o cultivo de microorganismos, formando colônias em certas superfícies, facilitando o seu estudo.

Nesse sentido, Koch introduziu o conceito de espécie em microorganismos, com características e funções distintas. Também em 1882, Koch foi o descobridor do bacilo da tuberculose e, em 1883, o bacilo da cólera.

Por essas descobertas, ele é conhecido como o fundador da bacteriologia, isto é, um ramo da microbiologia que estuda as bactérias.

Quarto Período: Início do século XX até o presente

Dados os avanços do século XIX, tanto teóricos como metodológicos, a microbiologia deixou de ser meramente especulativa, para se consolidar como ciência e dividir seu objeto de estudo em áreas específicas.

Nesse sentido, as investigações sobre infecções avançaram, tanto na técnica de esterilização quanto no pós-operatório, e em suas possíveis curas.

A Infectologia foi estabelecida como uma área de microbiologia, onde Paul Ehrlich (1854-1919) se destacou, que encontrou um tratamento para a sífilis e iniciou a chamada quimioterapia, e Fleming, que em 1929 descobriu a penicilina, a primeira das antibióticos

Também os avanços do século XX possibilitaram os estudos da composição do sangue e seus diagnósticos, obtenção de vacinas para várias doenças, virologia ou estudo de vírus, a criação de retrovírus para doenças como a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS)., entre outros.

Nesse sentido, a prática interdisciplinar da microbiologia se estendeu à medicina, bioquímica, biologia e genética, entre outras.