Eutanásia passiva (limitação do esforço terapêutico)

A eutanásia passiva ou limitação do esforço terapêutico (LET) é um ato médico que consiste em retirar ou não iniciar um tratamento, tanto farmacológico quanto instrumental, que não seria um benefício para o paciente, sua dor ou seu sofrimento.

Hoje é considerada uma prática médica legítima, sinônimo de boa prática, devido a uma mudança de paradigma na medicina em que mais importância é dada à condição geral e à qualidade de vida do paciente do que à mera sobrevivência (Borsellino, 2015; Baena, 2015).

O LET, portanto, não deve ser confundido com a eutanásia ou com o suicídio assistido, práticas ilegais na maioria dos países do mundo.

A limitação do esforço terapêutico: definição

Graças aos avanços tecnológicos e conhecimentos em ciência médica, hoje em dia existem muitas ferramentas que permitem manter um paciente vivo além do que a natureza teria previsto.

Existe um amplo espectro de tratamentos e intervenções que prolongam a vida, mas não garantem a recuperação: respiração, hidratação ou alimentação artificial, diálise, ressuscitação cardíaca ou quimioterapia, para citar alguns (Borsellino, 2015).

No entanto, a sobrevivência não é uma garantia de qualidade de vida ou bem-estar, aspectos que a ciência médica atual enfatiza há mais de meio século.

Assim, de acordo com Martinez (2010), os médicos devem examinar e tratar seus pacientes de modo que, pelo menos, os efeitos de suas ações sempre impliquem em uma melhoria na sua qualidade de vida.

É por isso que o LET não implica qualquer limitação de cuidados, já que garantir o bem-estar do paciente é tão importante quanto as tentativas anteriores de curá-lo (Winter e Cohen, 1999).

Portanto, situações em que um tratamento que prolonga a vida pode não ser o melhor para um paciente sem esperança de cura são comuns (Doyal e Doyal, 2001). É nesse momento que o profissional médico e o paciente (ou seus familiares) podem decidir não iniciar ou retirar esse tratamento.

Neste ponto, é importante ressaltar que todos os pacientes com idade legal e em plena consciência (ou seus parentes) têm o direito de recusar qualquer procedimento médico, e nunca é uma decisão tomada unilateralmente pelo pessoal médico (NHS Choices, 2017).

Como mencionado anteriormente, o LET tornou-se uma prática padrão e amplamente aceita nos últimos tempos (Brieva, Cooray e Prashanth, 2009, Hernando, 2007).

Diferença entre LET e eutanásia

A eutanásia é a ação, por parte de um profissional médico, de terminar intencionalmente a vida de outra pessoa, geralmente um paciente terminal, com o objetivo de salvar a dor e o sofrimento.

O nome «eutanásia» vem do grego antigo e significa «boa morte». Apesar de ser semelhante ao suicídio assistido, não deve ser confundido com ele. O suicídio assistido implica que o médico forneça os meios para o suicídio, que é posteriormente realizado pelo mesmo paciente.

No entanto, no caso da eutanásia, é o médico quem realiza todas as etapas (Harris, Richard e Khanna, 2005). Até o momento, os dois procedimentos são controversos e ilegais na maior parte do mundo, sendo que alguns deles são permitidos em apenas algumas dezenas de países (Wikipedia, 2018).

No entanto, no caso do LET, a morte do paciente não é a consequência direta das ações do médico e, como afirmado nos parágrafos anteriores, é uma medida amplamente aceita.

Por exemplo, um estudo realizado entre profissionais médicos espanhóis revelou que a grande maioria deles (98%) concorda com esse procedimento (González Castro et al., 2016).

Dilema ético?

Algumas décadas atrás, antes de se tornar a prática comum que é hoje, houve um debate dentro da ética médica e bioética sobre LET. Esse debate se concentrou em saber se havia alguma diferença moral entre LET ou "deixar morrer" e a eutanásia ou "matar".

Alguns autores como Rachels (1975) argumentaram que tal diferença moral não existia e que, em alguns casos, a eutanásia poderia ser moralmente superior, uma vez que evita o sofrimento do paciente em maior medida.

Outros, como Cartwright (1996), argumentaram que no caso de "matar" havia um agente que iniciava a sequência causal, enquanto no caso de "deixar morrer" o responsável era a sequência causal letal.

Notícias

Atualmente, no entanto, este debate é considerado ultrapassado e a única controvérsia reside naqueles casos em que o paciente não pode expressar seu consentimento diretamente, por exemplo, porque ele está em um estado vegetativo ou porque ele é uma criança pequena.

Nessas situações, geralmente é a família que tem a última palavra, com base no que o paciente poderia ter declarado em um momento anterior.

Da mesma forma, também é possível que o paciente tenha assinado um documento declarando sua vontade quando estava em estado consciente, o que está além da vontade de sua família (NHS Choices, 2017).

Exemplo

Um exemplo dessa controvérsia pode ser encontrado no caso da mídia de Alfie Evans, uma criança britânica de quase dois anos de idade que nasceu com uma doença neurológica degenerativa.

Ele estava hospitalizado desde os sete meses de idade, não tinha opção de recuperação, e os médicos disseram que o melhor curso de ação, e o mais humano, era deixá-lo morrer.

Em vez disso, seus pais, apoiados pelos governos italiano e polonês e pelo papa, acreditavam que Alfie tinha uma chance de sobreviver e se recusaram a dar seu consentimento.

Finalmente, a Corte Britânica de Recursos decretou a retirada do tratamento que manteve Alfie vivo, bem como a proibição de seus pais procurarem novos tratamentos alternativos.

Segundo o tribunal, a continuação do tratamento só teria prolongado o sofrimento da criança, o que contrariava seus próprios interesses (Pérez-Peña, 2018).