Memória de trabalho: funções, componentes e características.

A memória de trabalho (MT) é um construto relacionado à psicologia cognitiva que se refere às estruturas e processos utilizados para o armazenamento temporário de informações.

Assim, a memória de trabalho não constitui uma região específica do cérebro. Pelo contrário, este conceito define um tipo de memória que os seres humanos têm.

Este tipo de memória é aquela que usamos em um nível temporário e que nos permite armazenar e manipular informações a curto prazo. Por exemplo, antes da sequência numérica (1, 3, 5, 8, 9, 3), as pessoas conseguem lembrar os números exatos por alguns segundos.

No entanto, a memória de trabalho não se refere à capacidade simples de lembrar esses números. Mas especifica a capacidade da mente humana de manipular a informação que acaba de ser aprendida.

Desta forma, a principal característica que define MT é encontrada refletida em sua própria nomenclatura. Isto é, memória de trabalho, memória que usamos para trabalhar.

Muitas vezes é confundido e equacionado a memória de curto prazo, mas é importante ter em mente que ambas as construções não se referem ao mesmo.

O MT mostra que a memória não é uma mera "caixa de memória". Em outras palavras, o processo de memorização não é passivo, mas tem uma natureza ativa.

Então, a memória de trabalho é aquela capacidade que nos permite memorizar informações por alguns segundos. Da mesma forma, a informação não é apenas armazenada, é também criada, transformada e manipulada.

Neste artigo vamos comentar as características do MT, os diferentes componentes que apresenta, suas utilidades e seu funcionamento.

Evolução da memória de trabalho

Para entender as características da memória de trabalho, é necessário rever como evoluiu a conceituação de processos de memorização.

Durante o século passado, a concepção mais aceita do "modo de memorizar" estava na "Teoria do Portal".

Essa abordagem considerou o processo de memorização de maneira linear. Ou seja, as pessoas memorizam através de uma sucessão de estágios ou etapas de processamento.

Esse modelo, originado por Atkinson e Shiffring, postulou uma sequência de "armazenamentos de memória" organizados de acordo com a duração da informação.

Assim, essas lojas incluíam, em primeiro lugar, memórias sensoriais ultracurtas, associadas a processos de percepção.

Posteriormente, as informações passaram para um depósito de curto prazo. E finalmente, se a memorização foi reforçada, os elementos passaram para a memória de longo prazo.

Como podemos ver, este modelo defendeu um processo de memorização passiva. Ou seja, as pessoas recebem estímulos e estas vão diretamente para a memória. Se eles são fortalecidos, passam para memórias mais estáveis ​​(memória de longo prazo) e se não são esquecidos.

Pouco a pouco, as investigações sobre os processos mnésicos mostraram a impossibilidade de que a memória funcionasse através desses processos lineares.

Nesse contexto, das mãos de Baddeley e Hitch, surgiu o modelo de memória operacional que postula uma concepção totalmente diferente do processo de memorização.

Modelo de memória de trabalho

Atualmente, a maneira mais difundida e cientificamente aceita de entender a memória de curto prazo é a memória de trabalho.

Isso significa que o primeiro processo de memorização que ocorre é o que é necessário para manter as informações enquanto realiza qualquer tarefa cognitiva, como ler, resolver problemas ou pensar.

Nesse sentido, a abordagem de Baddeley e Hitch para a memória de trabalho argumenta que a memória de curto prazo deve servir para mais do que apenas lembrar.

Isto é, a capacidade dos seres humanos de memorizar durante alguns segundos uma série de 6 números (por exemplo, 1, 3, 5, 8, 9, 3) deve cumprir alguma função mais do que memorizar.

Assim, esses autores investigaram se, como eles propuseram, a memória de curto prazo serviu como memória de trabalho.

Para fazer isso, eles realizaram experimentos de tarefas duplas (por exemplo, lembrando-se de uma série de números durante a execução de uma atividade de problema lógico).

Os resultados obtidos mostraram que a cognição humana é capaz de manipular informações antes de armazená-las. Assim, foi demonstrado que a memória é um processo ativo e que a existência da MT foi evidenciada.

Da mesma forma, as investigações mostraram a necessidade de fragmentar a memória de trabalho. Em outras palavras, eles mostraram como quando a mente humana captura novas informações, ela pode executar várias operações além da "loja".

Componentes da memória de trabalho

O modelo de memória de trabalho defende a presença de três componentes diferentes. Ou seja, a memória de trabalho postula uma visão funcional da memória de curto prazo.

Assim, quando a informação é armazenada a curto prazo, ela é manipulada de tal forma que permite a realização de tarefas cognitivas. Por exemplo, durante a leitura, as informações são armazenadas brevemente, permitindo a compreensão dos parágrafos subseqüentes.

Como ler não é o único método pelo qual novas informações podem ser obtidas ou os elementos para memorizar são apenas letras, a memória de trabalho postula três componentes diferentes.

Cada um deles executa determinadas tarefas e permite o armazenamento e a manipulação de tipos específicos de informações. Os três componentes são: a alça fonológica, o executivo central e a agenda visual-espacial.

1- Loop fonológico

A alça fonológica é o subsistema responsável pelo processamento e manutenção da informação verbal. Sua missão é armazenar estímulos linguísticos e relacionados à linguagem (seja lido ou ouvido).

Na verdade, a informação verbal pode vir de entradas externas (leia um livro ou ouça alguém falar). E também de dentro do próprio sistema cognitivo (pensamentos verbais).

Para explicar o funcionamento desse componente, são postulados mais dois subcomponentes que formariam a alça fonológica:

a) Armazém provisório

Esse componente armazenaria informações acústicas, cujos conteúdos desaparecem espontaneamente em um intervalo de menos de três segundos, a menos que sejam fortalecidos por meio de atualização ou repetição.

b) sistema de manutenção

Este componente mantém as informações de fala por meio de repetitivas repetições articulatórias. Desta forma, a repetição feita por este sistema permite que a informação seja mantida indefinidamente.

Loop fonológico e aquisição de vocabulário

Aprender novas palavras é essencial para aprender corretamente uma língua. De fato, estima-se que uma criança entre sete e dezesseis anos de idade geralmente aprende cerca de duas mil palavras por ano.

Além disso, o conhecimento do vocabulário desempenha um papel muito importante no desenvolvimento de outras habilidades intelectuais. Um aluno com problemas de vocabulário geralmente tem dificuldades em outras tarefas de conhecimento.

Desta forma, a alça fonológica desempenha um papel vital na aprendizagem das pessoas, não apenas na memorização.

Nesse sentido, fatores ambientais (qualidade do ensino, disciplina na família, esforço no estudo, etc.) explicam grande parte das diferenças que podem ser encontradas na aquisição de vocabulário entre diferentes crianças.

No entanto, uma parte importante não pode ser explicada por fatores ambientais e deve ser interpretada através de diferenças individuais do tipo cognitivo.

Assim, as evidências científicas atuais permitem mostrar a associação entre a alça fonológica e a aquisição de vocabulário. Especificamente, uma criança com maior capacidade de memória de trabalho fonológica apresentará maior taxa de aquisição de vocabulário.

Estudos Neuropsicológicos

A primeira evidência de que a memória do trabalho fonológico está envolvida na aprendizagem de novo vocabulário vem do estudo de um paciente.

A paciente, conhecida pela sigla PV, sofreu uma embolia cerebral que causou problemas em sua memória fonológica de curto prazo.

Esses problemas foram manifestados pela incapacidade de reter material apresentado de forma auditiva. Especificamente, o paciente não conseguiu aprender novas palavras. Dessa forma, evidenciou-se a relação entre a alça fonológica e a aprendizagem do vocabulário.

Por outro lado, casos opostos, como crianças com síndrome de Down que, apesar de seu baixo nível de inteligência geral, apresentam alta capacidade de repetir o material apresentado auditivamente. Ou seja, apresentam boa memória do trabalho fonológico, mostram também a relação entre TM e aprendizagem.

2- Agenda Espacial Viso

A agenda viso-espacial é o componente responsável por preservar e processar informações de natureza visual e espacial.

A operação desse componente é a mesma do loop fonológico, com a diferença do tipo de informação que ele processa. Enquanto o loop processa informações verbais, ele processa informações visuais e espaciais.

Assim, os elementos que esse componente armazena também podem vir do sistema de percepção visual e do interior da própria mente.

A pesquisa sobre este subcomponente é mais complexa que a do loop fonológico. Desta forma, as informações e evidências científicas disponíveis sobre a agenda visoespacial são um pouco mais fracas.

Vários autores postulam, como no loop fonológico, a presença de dois subsistemas do calendário espacial visual. Desta forma, a existência de um componente de armazenamento visual e espacial é defendida.

As investigações que defendem essa idéia são exemplificadas pelo seguinte: Mover o braço em um padrão sequencial geralmente produz um desempenho pior na memória de uma sequência espacial (por exemplo, a tarefa de cubo Corsi), mas não na memória de figuras. ou tonalidades de cor.

3- Componente executivo central

Este último componente do MT desenvolve um papel diferente dos outros dois. Especificamente, o executivo central é responsável por apoiar tanto a alça fonológica quanto a agenda visual-espacial.

Em outras palavras, como diz Baddeley, o executivo central seria o sistema que permite controlar a atenção da memória operacional.

Embora este componente seja o mais importante, considerando o impacto geral que produz na cognição, atualmente ainda é pouco estudado. Nos dados disponíveis, são postuladas 4 funções principais do componente executivo central:

  1. Permite a coordenação de duas tarefas independentes (por exemplo, armazenamento e processamento de informações).
  1. É responsável por modificar tarefas cognitivas e estratégias de recuperação.
  1. Auxilia seletivamente a informação específica e inibe os estímulos irrelevantes.
  1. Ativa e recupera as informações já armazenadas (pertencentes à memória de longo prazo).

Assim, o componente executivo central permite integrar as novas informações captadas pelos dois subcomponentes do MT. E, ao mesmo tempo, facilita a integração desses novos estímulos com o conteúdo já armazenado na memória de longo prazo.

Regiões cerebrais da memória operacional

A atividade que realiza a memória de trabalho ocorre em regiões específicas do cérebro. Especificamente, a TM parece estar associada ao funcionamento de zonas neocorticais.

Nesse sentido, para ativar a memória de trabalho, é necessária a ativação do córtex pré-frontal. Essa região superior do cérebro é considerada básica para armazenar e manipular novas informações na mente.

O papel do córtex pré-frontal na memória de trabalho é fundamental, no entanto, vários estudos indicam como a operação da TM está na interação entre o córtex pré-frontal e diferentes áreas do córtex pós-trópico.

Assim, a memória de trabalho não ocorre em uma única parte do cérebro. Esta construção cognitiva requer a ativação de um circuito específico de neurônios.

Embora, no começo, a memória operacional seja iniciada graças à ativação do córtex pré-frontal. Para que isso funcione adequadamente, outras estruturas neuroanatômicas devem ser ativadas, como o lobo temporal e o lobo occipital.

Foi demonstrado que o lobo temporal permite armazenar e manipular informações verbais a curto prazo. Assim, essa área do cérebro daria origem à atividade da alça fonológica. Por outro lado, o lobo occipital é responsável pelo processamento da informação visual, por isso realiza as atividades relevantes para a agenda visual-espacial.